Lidando com a adversidade

 

O jardim foi projetado para descansar os pacientes e fazê-los pensar em algo diferente de sua própria doença.

01.

Amar com humor

02.

Estar atento às necessidades dos outros

03.

Rosas nos escombros

04.

Zatti e Ceferino

05.

Zatti cria comunidade

Uma das cenas estudadas para o momento do despejo do hospital é aquela em que a câmera faz zoom no momento em que os detritos caem sobre as rosas no jardim.

A história do jardim do hospital de San José tem como protagonista as enfermeiras que colaboraram com Zatti de forma voluntária, que com grande esforço montaram o jardim. O interesse deles respondeu à realidade do hospital, pois ali dirigiam os pacientes para que pudessem relaxar e absorver o sol. Um lugar para fazê-los descansar e pensar em algo diferente de sua própria doença.

Para muitos dos doentes, aquele jardim teria significado um lugar e um momento salvífico. De certa forma, ele conectou e representou simbolicamente todos os gestos de caridade e cuidado por parte de Zatti e sua equipe de colaboradores.

Não se tratava apenas de mais um jardim. Tampouco era um jardim botânico. Foi muito mais do que isso. Era a condensação do amor, que agora seria vista em meio aos escombros. Como isso aconteceu?

Em sua biografia de Artémides Zatti, Padre Raúl Entraigas nos conta a história do despejo do hospital. Foi precedida por uma necessidade que surgiu naqueles anos: dar um lugar de residência ao novo bispo de Viedma com a equipe de seus colaboradores imediatos. De fato, a diocese já havia sido criada em 1934 e, desde então, Monsenhor Esandi e seu povo viviam na antiga escola Maria Auxiliadora.

É assim que nos diz o Padre Entraigas:

Em 1936, o Prefeito Geral da Congregação, Dom Pedro Berruti, chegou de Turim. Ele veio com a missão de preparar um acordo para distribuir os bens da Sociedade Salesiana, alguns dos quais, tendo sido adquiridos intuihl Ecclesiae, pertenciam naturalmente à nova diocese. O superior, em acordo com Monsenhor Esandi e seus conselheiros, preparou o acordo. Entre os bens listados como pertencentes ao bispado estava o terreno em que o hospital estava localizado.

Enquanto isso, engenheiros, construtores e trabalhadores da Diretoria Nacional de Arquitetura chegaram para começar a trabalhar no novo bispado. O local teve que ser deixado vazio.

Zatti esperava por um milagre até o final;
mas Deus queria o milagre de seu sacrifício,
e obediência… e isso aconteceu.

“Eu o vi chorar como uma criança”, diz um dos padres que estava ao seu lado durante aquelas horas do Calvário. Zatti não tinha para onde levar seus doentes. Os pedreiros já estavam começando a demolição e os pacientes ainda estavam no hospital. O pobre Zatti estava atordoado naqueles dias (…) Parecia-lhe que cada golpe da picareta o atingia no coração. Ele ia, vinha, voltava, voltava: estava desorientado: ele não sabia o que estava fazendo.

Os últimos pacientes deixaram sob o pó das primeiras paredes em colapso do hospital. Os trabalhadores da arquitetura não sabiam do que se tratava. Eles receberam ordens para demolir e demoliram.

A rosa atingida com os escombros jogados fora com indiferença traz à mente Zatti que vê sua vida ser batida. Sua caridade é esbofeteada pelas circunstâncias.

Raiva, angústia, indignação. Zatti não é estranha a isto, como qualquer pessoa que passa por uma situação injusta e dolorosa. Há um tempo para tudo. Mas também há tempo para recomeçar.

Diante da adversidade, Zatti responde com oração, trabalho e comunidade, sem nunca perder de vista o que é mais importante: não as paredes do hospital, mas a possibilidade de continuar a acompanhar os pobres e os doentes.